1. |
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Ao definhar da chuva
Não existe a palavra
Nomenclatura
Tudo aquilo que eu não sou
Posso dizer aqui
Do outro lado do sol
Para além deste espelho
Não é esta a Natureza
Simples, sem misericórdia
Psicopata
Algo que é uma linguagem
O passado remexido por entre
Os dedos, o entrelaçar das mãos
Abomináveis nos olhos
Vermos sempre o mesmo
Há tentativa supérflua
Nas letras dactilografadas
As digitais por vezes
A carvão num som
Tão monótono
A luz já nada pode
Contra um fantasma
Antes que amanheça bebo todo
O seu santo sepulcro
Exausto ao escrever
O nenhures e nada que rime
Só no seu sorriso deleitado
Assim não queria dormir
Assim não queria morrer
Angelical às minhas feridas
Dolorido
O teu semblante
Inesquecível unguento
Na minha alma
Que não tinha
Me ia curando
Sorrindo
Sorrindo
Que Primavera é esta
Em que a pele se despe
No desalento serenamente
Onde estão os beijos idos
Ainda inflamada lembrança
No passado destruídos
Uma lágrima é um arremesso
Lá está, a sombra que nos
Transporta e leva
Sem ter reflexo
Desamparo e sal
Trás algas
As próprias folhas secas
Encobrem a lida assassina
As flores deixam de cair
Percorrer
Abandonadas a seu destino
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2. |
Plangite
05:44
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A maneira com que se bebe
O Inverno antigo
Um desejo de morte
Que não me permite escutar-lhe
Uma chuva cinzenta
Trespassa as janelas silentemente
Tanto para contar no invisível
Nas escamas do fumo incandescente
No peito negro coração atroz que bate
Não mergulhes nessa escuridão
Que te ofertei
Corredor de sonhos um buraco negro
O meu volume veneno
A minha pele é defunto pesadelo
As palavras pregos enferrujados encrostados
Na linguagem diabólica do sentir
Mantenho os olhos abertos
O arame farpado nu
Para que com que as pálpebras não se fechem
Caiu a coroa em espinhos
De todo o peso de uma linha horizonte
É terrível tudo o que perdi na vida
Exumação do corpo mortalhas funesto
O trapo numa mão
O cianeto na outra, atrás,
Das tuas costas
Um abraço
O tempo não ama
A lua
Um sol de meio-dia
Os livros
Queimados
São negras as horas
Em que nasce o dia
Chover?!
Chover não foi para todo o sempre
Apenas
Se deitaram, os olhos
Exaustos, sobres as nuvens
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3. |
Mármore
04:25
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A minha cama sem ti é mármore
A minha cama sem ti é uma tumba
Um caixão onde me deito e me afundo
Os meus pulsos abertos o mar onde naufrago
Os braços pendidos sobre o peito
O abraço correntes sobre a terra
Batalhas derrotas sangue
A minha cama sem ti é mármore
A minha cama sem ti é uma tumba
Um caixão onde me deito e me afundo
Os meus pulsos abertos o mar onde naufrago
A misericórdia enterrada no meu coração
Os braços pendidos sobre o peito
O abraço correntes sobre a terra
Batalhas derrotas sangue
A minha cama sem ti é mármore
A minha cama sem ti é uma tumba
Um caixão onde me deito e me afundo
Os meus pulsos abertos o mar onde naufrago
A minha cama sem ti é mármore
A minha cama sem ti é uma tumba
Um caixão onde me deito e me afundo
Os meus pulsos abertos o mar onde naufrago
A minha cama sem ti é mármore
A minha cama sem ti é uma tumba
A minha vida um cemitério
E tudo o que a morte levou
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4. |
Letal Amplitude
05:54
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Existia um deserto
No teu vestido ao vento
E um pôr do sol frio
No teu olhar
Estrelas decadentes
Quando os lábios, os teus
Pisavam o ar.
Ide Senhora
Que o Outono não varreu as folhas
O sol esqueceu-se de anoitecer
Veio no silêncio
Inundar-me os olhos
O peito vazio.
Já tudo morreu
Tão próximo de nós.
Ainda não vi a geada
Nesta cama fria de gestos
O meu coração repousa
No Inverno soturno
Da tua sepultura esventrada
Quase um esquecimento divino
Um Deus a nada
Glorioso no trono da sua desgraça.
As letras do teu nome
Vêm acopladas ao cuspe
Avermelhado depois do vómito.
As manhãs pedaços
De espelhos partidos
Enterrados nos pulsos
Quando acordo.
Os cadavéricos dedos
Agarram-se à quase
Desconhecida face reflexos.
Há fúnebre sombra em que a luz
Do sol tudo cria
De nada vale injectar tinta nas veias
Se no cadáver, já nem o meu fantasma
Se reconhecia
Os teus pés encharcados de sangue
Acariciam o meu corpo
Afogado no seu próprio vómito
Velado numa manhã sem luz
Não se evolam, não ressoam
Numa cova funda
Do meu caixão a cair
Não se evolam, não ressoam
Numa cova funda
Do meu caixão a cair
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5. |
Cemitério da Lembrança
04:48
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Este é o lugar em que invisivelmente
Te dou a mão.
Estas são as árvores que contemplamos sem olhar
As ruas que preenchemos com o nosso volume inexistente.
Não te digo adeus!
Reprimo as palavras que tenho para te dizer.
As lágrimas, essas, não as consigo chorar.
Este é o lugar em que o frio me desperta
A tua ausência me ensombra.
Enluto-me com o véu da noite, confundo-me.
Este é o lugar do não adeus
Do não esquecimento.
Cada folha transpira a tua presença.
Este é o lugar em que não há território
Para a memória.
Este é o cemitério da lembrança.
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6. |
Peso Negro
04:30
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Num lago de almas e silêncio
Noutras faces erigidas sem contornos
Deambulo pedras sepulturas
Não habitadas
Nada emerge nesta geometria
Qual crepúsculo de entendimento
De outro lugar, um lugar
Que não faça as horas à janela
E o tempo que se espera
Os contornos das frestas
Não pensados fantasmagóricos
Ainda assim rangem ao sopro
De uma leveza oxidada
}
Portas por abrir e
Caixões de vida
Emparedados
{
Portas por abrir e
Caixões de vida
Emparedados
De uma leveza oxidada
Não pensados fantasmagóricos
Compasso de ossos já enterrados
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7. |
Autópsia
05:46
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O Outono para sempre se instalou
Tem a cor de sangue em copos esbatidos
Lábios carimbados
Corrosivas palavras coleccionadas
Com o limbo da noite
Tudo se preenche em perlongados suicídios
Na apatia do revirar dos titânicos dias
Não quero a poesia um barco à deriva
Uma tempestade de folhas escarlate
Cheira a corações queimados
Na insistência do Inverno
Atracam destroços à porta
Chovem bosques
Séculos sentados à beira de prantos
O corpo abandonado é olhado do céu
O silêncio em torno das flores
Sepulcro na marcha
Gotas de veneno evaporam-se
Dos poros esponjosos
Misturam-se com o ar
À espera da vítima primaveril
Mais um copo,
Noites preenchidas com olhares ondulantes alcoólicos
Um fulgor desinteressante de língua
O aroma Inesquecível da pele
Na tua campa escondida
Os dedos sedentos de embriaguez
Sintetizados de terror
Meresias de asfalto tristeza
Eu que sempre pensei
Que conhecia todos os teus segredos
Toda a linguagem
Não escrita
Não dita
Que em mim crescias
Em espinhos e dos meus dedos
Nasciam rosas quando te tocava
O desamor é o motor
Deste mundo moribundo
Fecho a Navalha
Amanhece
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Until The Horizon Gone Lisbon, Portugal
Poesia auto-biográfica trágico/romântica em paisagens exploratorias/ambientes
sonoros.
Pedro Adrega - Poesia e texto.
David Lopes - Guitarra, sintetizadores e programação.
Pedro Petronilho - Guitarra, sintetizadores, alfaia e percussões
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